Um grupo de mais de 130 indígenas de várias etnias mantém a ocupação da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de Atalaia do Norte, a 1139 km de Manaus, desde a terça-feira (19).
Um grupo de mais de 130 indígenas de várias etnias mantém a ocupação da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de Atalaia do Norte, a 1139 km de Manaus, desde a terça-feira (19). Armados com arcos e flechas, eles retiraram à força, da sede da instituição, funcionários e o coordenador do órgão na região, Bruno Pereira, para acampar no local. Eles reivindicam mais segurança nas aldeias em razão de conflitos com povos isolados e exigem a escolha de um novo coordenador.
A ocupação conta com a participação de 62 índios da etnia Matís. Os demais manifestantes são dos povos Morubo e Mayoruna.
A Associação Indígena Matís (AIMA) e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), que representam os indígenas nas articulações junto à Funai, acompanham a situação na localidade. A Funai afirma que dialoga com as etnias.
Marcelo Matís, membro da AIMA, disse que os índios reclamam de omissão da Funai em relação a conflitos entre o povo Matís e grupos isolados da etnia Korubo, que vivem na Terra Indígena Vale do Javari, localizada na fronteira do extremo Oeste do Amazonas com o Peru.
“O grupo continua na sede da Funai. Essa atitude foi tomada por falta de ação da Funai em relação à segurança das aldeias. Pedimos a saída do Bruno e o cumprimento de promessas feitas aos indígenas que nunca aconteceram. O Bruno não respeitou o povo Matís e não atendia o povo. Não dialogava com nosso povo”, disse. Os indígenas chegaram a divulgar carta aberta com reivindicações e denúncia das fragilidades da política indigenista na região, de acordo com ele.
Para por fim à ocupação, os índios pedem que a Funai aceite a indicação feita pelos indígenas no processo de escolha de um novo coordenador. O grupo solicitou que uma liderança indígena ocupe o cargo. “Queremos uma pessoa experiente”, destacou Matís.
À reportagem, a Funai afirmou acreditar no “diálogo como meio de encontrar soluções pacíficas para a questão”.
A Fundação disse que, em dezembro de 2015, o presidente João Pedro, o diretor de Proteção Territorial da Funai, Walter Coutinho Júnior, e o Coordenador Geral de Índios Isolados e Recém Contados, Carlos Travassos, estiveram reunidos com um grupo de lideranças Matis, em Brasília, na 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista.
Na ocasião, segundo a Funai, foi acertado, atendendo a um pedido dos Matis e outros povos do Vale do Javari, uma agenda do presidente e demais representantes da Funai na região, prevista para acontecer em fevereiro deste ano. O encontro deve estabelecer ações prioritárias, concluir as conversações iniciadas em Brasília e definir encaminhamentos a serem adotados.
“Nesse sentido, a Funai manifesta sua surpresa com relação à ocupação, uma vez que vem mantendo um diálogo aberto com os Matis. Ainda, manifesta que não haverá mudança do titular da Coordenação Regional do Vale do Javari, diante da situação de ocupação da coordenação”, informou.
Conflitos – O Amazonas tem 16 grupos de índios isolados na região do Vale do Javari. A Terra Indígena do Vale do Javari, no estado do Amazonas, possui área de 8,4 milhões de hectares. A Funai estima a existência de cerca de 4,5 mil índios de contato permanente e dois grupos de recente contato na região.
Em 2014, dois grupos fizeram os primeiros contatos. A região tem sido palco de conflitos de povos indígenas de etnias distintas. Há um ano, um confronto resultou em mortes de índios. O inquérito que investiga o caso não foi concluído.
Os contatos entre etnias isoladas e povos indígenas de contato permanente teriam gerado mortes e tornado a região conflituosa. Um dos casos que reforça a situação de “guerra tribal” ocorreu no dia 5 de dezembro de 2014. Duas lideranças indígenas da etnia Matís foram assassinadas durante conflito com índios isolados do povo Korubo, na aldeia Todowak. A aldeia fica às margens do Rio Coari.
Logo após as mortes em conflito indígenas, a Procuradoria da República em Tabatinga do Ministério Público Federal (MPF) recebeu a denúncia e iniciou apuração do caso. Após um ano do crime, o inquérito civil público ainda foi concluído. O MPF justificou que aguarda resposta da Funai sobre informações solicitadas a respeito do atendimento no Vale do Javari.
Fonte: G1
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